Poster do filme |
Tião, diretor de 'Animal Político', na Mostra de Tiradentes 2016 |
Logo de inicio vemos a
angústia e relutância da protagonista com o seu presente, fazendo diversas
indagações sobre sua vida e sentimentos, assim, mergulhando em uma crise
existencial iminente. Leia a sinopse do filme: “Uma vaca tenta se convencer
de que é feliz. Numa noite, véspera de natal, a vaca confronta-se com uma
sensação forte de vazio, algo estranho que ela nunca havia sentido. A crise a
faz começar uma jornada por iluminação, em busca do seu verdadeiro eu.”
A direção de arte é de
Thales Junqueira, que realizou diversos curtas-metragens premiados e está
presente na equipe de arte de filmes como “Tatuagem”, de Hilton Lacerda,
e “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert. A direção de arte do filme “Animal
Político” é extremamente bem cuidada e balanceada entre cores mais frias,
como o azul e as cores mais quentes, como o vermelho, quando surge um intervalo
narrativo, com o curta: “A pequena caucasiana.”.
Essa mistura na paleta
de cores e narrativa, nos confronta com a intenção do filme, mais uma vez,
nesse misto de sentimentos, indagações e angustias presentes. Quando temos a
presença da vaca como protagonista, a tonalidade da cena é composta pelos tons
frios, como o azul, o verde, tons pasteis, e também variações de cinza. Cada
uma das cores escolhidas podem ter sido intencionais para criar uma atmosfera
que abrange tão bem o significado das cores em uma narrativa tão densa. A cor
azul pode ter diversas significações, mas no filme “Animal Político” estaria
representado pela angustia do personagem, a monotonia e depressão. O verde pela
suavidade e equilíbrio do momento, os tons pasteis para destacar mais a
indecisão e as tonalidades do cinza o que é indefinido, a dúvida, podendo
chegar até ao aborrecimento.
Quando temos a pequena caucasiana como protagonista
vemos uma narrativa que constrói o isolamento de uma forma oposta à vaca.
Segundo Bruno Carmelo, do site Adoro Cinema, “...a jovem caucasiana
representa a personagem alienada, afastada contra a sua vontade de seu mundo de
privilégios, enquanto a vaca toma a atitude política de se afastar por si
própria. São duas formas distintas de romper com a inércia da classe média,
mostrando como os personagens só interessam ao diretor quando retirados de seus
meios naturais. Neste caminho, Tião imagina o encontro entre dois seres humanos
sem cabeça, num belo momento magrittiano que contribui à metáfora da perdição.”
Conseguimos uma 'pausa para respiro', onde quem
estaria perdido na narrativa de Animal Político até então, seria o
momento para ligar os pontos e ver o quão profundo a narrativa é, e
relacioná-la com esse curta-metragem chamativo e intrigante. Não é somente a
forma de isolamento oposta que constrói da vaca, mas também toda sua direção de
arte, as cores contêm um forte contraste entre cores frias e quentes bem
marcantes, onde a bela caucasiana é trabalhada com tons marcantes e
sedutores.
Com o destaque em vermelho do sangue e cabelos
ruivos de (Elisa Heidrich) que se encontra perdida em uma
ilha deserta, e é obrigada a devorar seus bens quando tem fome, mesmo sendo de
uma família aristocrática. A presença física e não racional do coração humano é
marcado com as cores, elas também nos guiam em um sentimento de calor e desejo.
A cor amarela poderia reapresentar a nobreza, ou nesse caso em especifico a
falta dela.
Retomando ao longa
Animal Político, uma das grandes curiosidades do público presente na sessão foi
como a produção fez para levar a vaca a diversos lugares públicos e se tiveram
problemas durante as filmagens, como as cenas da balada, do shopping center,
restaurante, ou mesmo nas ruas. Bruno Carmelo questionou em uma entrevista
feita com o João: “Como se coloca uma vaca dentro de um shopping center, ou no
salão do cabeleireiro? Como se constrói a personalidade de uma vaca, e de que
maneira ela pode sofrer uma transformação?”
Segundo a entrevista de
Bruno Carmelo com Tião, o filme contêm um humor “sutil e absurdo”, vai de
Sessão da Tarde a Dostoievski e Nietzsche". Durante o inicio da sessão
gerou muitos risos do público, por questão de um estranhamento da protagonista
ser uma vaca passar por situações que passamos todos os dias, surpresa e
questionamentos como dirigir uma atriz tão peculiar. “Às vezes é um humor que
bate de frente, logo com o corte da montagem, às vezes ele vem devagar, como a
vaca.” - Tião. Você pode conferir a entrevista completa clicando aqui.
Animal Político nos
apresenta uma associação bastante interessante e profunda ao colocar a vaca
vendo um museu de arte e se depara com um quadro, fica admirando-o e indagando
diversas questões. Quando chega ao final da narrativa, a vaca se depara a mesma
cena do quadro, mas agora está vivenciando o que antes era apenas uma
representação. A cor verde das árvores, natureza antes distante dela emoldurado
em uma parede agora a cerca de maneira harmoniza, representando o conforto e
equilibro do momento.
Além do longa-metragem
ter sua estreia em Tiradentes, o filme teve também sua estreia internacional no
International Film Festival Rotterdam, no Festival de Roterdã, um dos mais
importantes da Europa e concorreu ao prêmio da sessão Bright Future.
Tião têm influências
fortes no cinema como os diretores David Lynch , Spike Jonze, Charlie Kaufman.
Podemos perceber características da problematização existencialismo humano
entre estes, Animal Político cultiva reflexões sobre a realidade concreta do
indivíduo, discute especulações filosóficas, em polêmica com doutrinas
racionalistas que dissolvem a subjetividade individual em sistemas conceituais
abstratos e universalistas, além de problematizar diversas questões do nosso
mundo contemporâneo e nossa maneira de ver os seres humanos como os únicos
seres racionais e lógicos.
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Escrito por: Bárbara Antônia
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