Lucas Bambozzi produziu um documentário assustador em Lavra, assustador da mesma maneira que os desastres criminosos causados pela Vale. A produção se estrutura como um road movie onde Camila segue o curso dos rios Doce e Paraopeba passando por comunidades afetadas. Camila é uma personagem escrita para o doc e serve de tela em branco ou substituta para um espectador não informado, o que contribui para um estudo do documentário como um filme de terror.
O gênero do horror tem histórias de casas assombradas e geralmente quem as assombra são as pessoas que ali morreram, mas, em seletas narrativas, lugares são vivos e assombram a si mesmos, mortos ou esquecidos.
Por outro lado, para os Krenak, o Rio Doce representa a figura do avô e se chama Uatu. Uatu não morreu, está doente, e é um símbolo da cultura e espiritualidade do povo Krenak. O rio é um deles e precisa agora do cuidado que promovia a eles.
O filme também, em um momento, busca na poesia de Carlos Drummond de Andrade uma lente com a qual enxergar as consequências da mineração. O autor mineiro de Itabira testemunhou a chegada das mineradoras de ferro em Minas Gerais e a completa destruição do Pico do Cauê, identidade da cidade. Sua poesia é solastalgia, um dos neologismos citados no filme, significa uma ligação melancólica com a paisagem, uma angústia associada a mudanças no entorno natural de um indivíduo e conecta o poeta e o indígena a um espaço emocional. Medo, horror e reverência à natureza sublime em si ameaçada.
*Estudante de Cinema e Audiovisual da PUC Minas.
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