Por Caio Braga Pimenta*
Exibido na Mostra Ecofalante na PUC Minas, o documentário de Marcelo Pedroso, Laercio Portela e Cecília da Fonte desenha um retrato da desigualdade no Brasil. Território Suape leva o nome de seu objeto ilustrado, o complexo portuário e industrial de Suape, uma série de projetos de aspecto desenvolvimentista ao redor de Cabo de Santo Agostinho no estado de Pernambuco que prometiam oportunidades de emprego para os que ali moravam.
O filme se estrutura através de básicas entrevistas com os afetados e com os engenheiros, utilizando uma linguagem jornalística. Enviesado em apoio dos afetados sem monstrificar os engenheiros, o doc permite que suas falas incomodem por si só.
A violência neoliberalista causada por projetos como esse vem de uma omissão deliberada. Uma violência que ergue um muro invisível entre a classe trabalhadora e o condomínio de luxo. Uma fala de um engenheiro, por exemplo, parece indicar que ele genuinamente não enxerga o muro, propõe que os trabalhadores que construíram o condomínio agora desfrutem como empregados na manutenção dos domicílios.
Como medida de mitigação, foi construído um conjunto habitacional distante do empreendimento para os desalojados, moradores antigos da região. O conjunto é composto por casas do tamanho de dois fuscas, organizadas homogeneamente numa grade, automatizada. Não parece um lugar para ser habitado.
Três dos personagens dentre os afetados pelo desenvolvimento, quando entrevistados, fizeram um apelo pela arte e educação. Zé Henrique vislumbra a recuperação do teatro municipal que está em ruínas, Ogro tem saudade dos eventos de hip hop hoje criminalizados e Gleydson dá aulas numa escola precarizada que mantém nas paredes rabiscos com os nomes dos jovens assassinados no município que ostenta o índice de maior vulnerabilidade de jovens negros no Brasil. Personagens que entendem que a via da cultura é a que anda mais certeira em direção a um escape da inércia causada por um projeto intencional de subalternidade.
Os diretores citaram Chico Science na conversa que seguiu, sua canção A Cidade ilustra muito bem o processo econômico que se instaurou quando as empreiteiras e firmas de engenharia ocuparam o território com seus projetos, “a cidade não para, a cidade só cresce, o de cima sobe e o debaixo desce”.
* Estudante de Cinema e Audiovisual da PUC Minas.
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