Por Camila Alves
Exibido no dia 08 de maio, no Encontro com Realizadoras promovido pelo CEIS, o documentário Retratos de Identificação (2014), dirigido por Anita Leandro, reorganiza acontecimentos da ditadura militar brasileira a partir de fotografias encontradas em arquivos referentes a presos políticos em situações de domínio militar. O filme foi construído a partir de uma pesquisa da diretora aos arquivos públicos do Rio de Janeiro, uma fonte pouco visitada da história do país.
Durante a ditadura militar brasileira, os presos políticos eram fotografados em atos de prisão, interrogatórios, investigações e até em situações de tortura. Os arquivos que inicialmente tinham a finalidade de constituir um registro policial referente às pessoas que eram consideradas criminosas pelo governo militar, hoje são importantes documentos comprobatórios dos atos de violência realizados pelos verdadeiros criminosos, a polícia que torturava e assassinava.
Na intenção de registrar os crimes dos presos políticos, os militares documentaram os próprios crimes, e dessa forma é possível revisitar a narrativa histórica oficial a contrapelo, como dito pela diretora, apresentando o ponto de vista das vítimas. Nesse trabalho, Anita reconstitui acontecimentos de violência e repressão policial pela perspectiva de dois sobreviventes, tomando como base o material produzido pelos próprios agressores. É uma forma de ressignificar os documentos e possibilitar às pessoas o conhecimento dos fatos.
Para além da importância como agente da história, o documentário expande as perspectivas em relação às pessoas que foram presas, torturadas e assassinadas, contando com relatos intimistas e humanizados. O filme não é apenas sobre agentes políticos, é sobre pessoas que se relacionavam, amavam, sofriam. É um relato coletivo e individual profundo sobre a memória e os traumas de uma época que ainda é uma ferida aberta na história do Brasil.
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