Por Camila Alves
Conversa após exibição do filme "Rainha Nzinga Chegou" na II Semana de cinema da PUC Minas. Da esquerda para direita, Letícia Goes (mediadora) e os convidados, Rainha Belinha e Ewerton Belico. |
A Rainha Nzinga Chegou (2019)
Exibido na II Semana de Cinema da PUC Minas, o documentário A Rainha Nzinga Chegou (2019), dirigido por Junia Torres e Isabel Casimira, registra o rito de passagem das rainhas da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário, em Minas Gerais. O longa retrata intrinsecamente como se organiza essa comunidade e evidencia seus traços culturais.
O documentário acompanha o processo doloroso de sucessão da coroa, levando em consideração a morte de uma rainha. Rainha Belinha, filha de Rainha Isabel, pouco tempo teve para absorver o luto, tendo que assumir a responsabilidade e o chamado sagrado de dar continuidade às guardas de congo e moçambique e seguir com a missão de orientar e ajudar as pessoas.
O novo e o antigo se entrelaçam ao tempo em que Rainha Belinha busca a ancestralidade para tecer o futuro do congado. O aprendizado é o fio condutor dos dias que estão por vir no novo reinado. A renovação também é marcada pela importância de manter a memória como guia. Os antigos reis e rainhas do congo são os pilares da continuidade dos congados. Não é todo dia que uma rainha morre, é um acontecimento expressivo, ainda assim, é preciso que alguém assuma esse lugar de maneira rápida para manter a estrutura da comunidade de pé. É uma expressão de que a vida continua, aconteça o que acontecer.
A temática de vida e morte é apresentada de forma agridoce no documentário. Ao mesmo tempo em que existe um tom melancólico condutor de todo o filme, as celebrações festivas enaltecem sempre a alegria e a luta em que consiste a vida. Há sempre algo para além da tristeza. Existem dois momentos distintos na construção do longa, a primeira parte que diz respeito ao reinado de Rainha Isabel, e a segunda, que acompanha Belinha, herdeira do trono, em sua viagem para Angola, prestes a assumir a coroa, dessa forma, se entrelaçam a estética do sofrimento e a estética da descoberta. Mesmo com a mudança estilística, o conjunto transparece um aspecto único e singular das escolhas de montagem e narrativa.
Mesmo que haja um recorte específico, o documentário levanta e apresenta questões humanas universais. Os sentimentos de perda, força e renovação transcendem na subjetividade. A forma de lidar com a vida e a morte é sentida e transmitida de forma genuína. O sagrado tem um papel fundamental na perspectiva dessa comunidade em relação a essas questões de ordem universal a qual todos estamos sujeitos. É uma manifestação diferente do padrão e capaz de estimular novos olhares.
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