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Os Rios Assombrados pelo Ferro - Ensaio sobre Lavra

Por Caio Braga Pimenta*

Lucas Bambozzi, ao lado da professora Elisa Rezende, na exibição de "Lavra" na Mostra Ecofalante.
Fotos por Pâmella Ribeiro.

Lucas Bambozzi produziu um documentário assustador em Lavra, assustador da mesma maneira que os desastres criminosos causados pela Vale. A produção se estrutura como um road movie onde Camila segue o curso dos rios Doce e Paraopeba passando por comunidades afetadas. Camila é uma personagem escrita para o doc e serve de tela em branco ou substituta para um espectador não informado, o que contribui para um estudo do documentário como um filme de terror.

O gênero do horror tem histórias de casas assombradas e geralmente quem as assombra são as pessoas que ali morreram, mas, em seletas narrativas, lugares são vivos e assombram a si mesmos, mortos ou esquecidos.

Por outro lado, para os Krenak, o Rio Doce representa a figura do avô e se chama Uatu. Uatu não morreu, está doente, e é um símbolo da cultura e espiritualidade do povo Krenak. O rio é um deles e precisa agora do cuidado que promovia a eles.

O filme também, em um momento, busca na poesia de Carlos Drummond de Andrade uma lente com a qual enxergar as consequências da mineração. O autor mineiro de Itabira testemunhou a chegada das mineradoras de ferro em Minas Gerais e a completa destruição do Pico do Cauê, identidade da cidade. Sua poesia é solastalgia, um dos neologismos citados no filme, significa uma ligação melancólica com a paisagem, uma angústia associada a mudanças no entorno natural de um indivíduo e conecta o poeta e o indígena a um espaço emocional. Medo, horror e reverência à natureza sublime em si ameaçada.


Debate da Mostra Ecofalante na PUC Minas.
Foto por Pâmella Ribeiro.


*Estudante de Cinema e Audiovisual da PUC Minas.

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